Artista rio-pretense expõe autorretratos conceituais “Recorte 365”

Por Graziela Delalibera – Diário da Região
A artista plástica Alessadra da Mata, 39 anos, é uma mulher de inúmeras interpretações. Ora ela encarna personagens do cinema, do teatro, dos quadrinhos, da música e da literatura, ora volta a ser ela mesma, e na própria pele interage com obras de arte. Toda essa versatilidade pode ser vista em 45 autorretratos que a artista apresenta até o dia 21 de abril, na livraria Empório Cultural, no Riopreto Shopping, dentro da exposição “Recorte 365”.
A mostra é uma seleção feita a partir de um projeto que a artista desenvolveu no decorrer de um ano – um anuário de autorretratos produzidos entre 20 de agosto de 2011 e 20 de agosto de 2012.
Nesse período, Alessandra fotografou a si mesma diariamente e usou a rede social Facebook como plataforma para divulgar o trabalho. Além de atuar como modelo nas 365 fotografias, a artista foi maquiadora, cabeleireira, montou os próprios figurinos, fez a edição das imagens e o processo de pesquisa.
A maior parte dos autorretratos traz releituras de diferentes personagens. Na exposição em Rio Preto, ela encarna, por exemplo, a personagem central do livro de quadrinhos autobiográfico Persépolis, da iraniana Marjane Satrapi, e Amelie, do filme “O Fabuloso Destino de Amelie Poulain”, de Jean Pierre Jeunet. Entre os autorretratos presentes na mostra também há releituras da personagem vivida por Giulietta Masina no filme “Noites de Cabíria”, de Federico Fellini, e de Rê Bordosa, do cartunista Angeli.
Como si mesma, ela é “sugada” pelo túnel do artista Mauritus Cornelis Escher, xilografista holandês, e interage com o grafite do britânico Bansky. As fotografias já ficaram expostas em São Paulo, logo depois do fim do projeto, durante 30 dias, em um bistrô na Vila Madalena. Alessandra conta que a ideia dos autorretratos surgiu quando atravessava uma espécie de “crise existencial”, e o objetivo inicial era simplesmente trabalhar sua autoestima. No começo, as fotos a retratavam em seu cotidiano.
Com o passar do tempo, o trabalho começou a trazer realização e a requerer disciplina, e tornou-se algo maior. “No primeiro mês, foi algo mais solto. Com o tempo, comecei a fazer um trabalho de pesquisa e trouxe para minhas fotos. Muitas delas nasceram de um artista que eu não conhecia. Também foi uma forma de divulgar o trabalho de outras pessoas”, diz ela. Além da fotografia, Alessandra utiliza em seus trabalhos técnicas de colagem digital e de design gráfico.
“Parece simples, mas ter de acordar todo dia e pensar num personagem novo é um trabalho de disciplina absurdo. Foram 365 dias buscando novas referências artísticas.” A artista também contou com a ajuda dos seguidores de seu trabalho no Facebook, que deram opiniões quanto à criação de novos personagens para o projeto. Em sua página no Facebook, Alessandra postava junto com o autorretrato a imagem original usada como referência. Para a exposição, ela explica que escolheu os personagens mais acessíveis ao público em geral.
Formada em jornalismo pela Unilago, Alessandra vive em São Paulo há 11 anos, onde trabalha no Departamento de Fotografia da Agência Estado. Na Capital, ela fez extensão em Educomunicação. Em Rio Preto, tem familiares e amigos. Sua principal inspiração é a artista plástica norte-americana Cindy Sherman, famosa por seus autorretratos conceituais. É dela a foto arrematada num leilão por US$ 3,89 milhões, considerada a mais cara do mundo. Atualmente, Alessandra planeja outro projeto envolvendo fotografia, no qual irá trabalhar com modelos a partir dos 70 anos.
Serviço:
Recorte 365. Exposição na livraria Empório Cultural, no Riopreto Shopping, até 21 de abril