Matéria publicada na revista Parcerias do Bem, ed.agosto/2009
Texto: Soraya Pericoco
Ortodontista Roberto Lima narra a intensidade da experiência de percorrer o Caminho de Santiago de Compostela.
A vida é uma busca constante. Gastamos boa parte do nosso tempo e da nossa energia em projetos que nos preencham, que satisfaçam diferentes anseios e necessidades. Assim, percorremos caminhos, fazemos escolhas, definimos os próximos passos. A expectativa é que essas diferentes rotas e desafios de tantos caminhos, com suas experiências e conhecimentos, nos tornem melhores. Serenos, sábios e plácidos.
“Alguns sonhos e projetos vão tomando forma ao longo da vida. Absolutamente não pensávamos neles até um tempo atrás. Eles acontecem assim: são ideias teimosas, possibilidades desafiadoras que não nos deixam em paz até que as encaremos! Nesse ponto, você está irremediavelmente preso a um sonho e a ele se dedica até realizá-lo”. Com esse pequeno texto, o ortodontista rio-pretense Roberto Lima se despediu dos amigos no dia 9 de maio para percorrer o Caminho de Santiago de Compostela. Hoje ele não tem mais dúvidas: o essencial é mesmo invisível aos olhos, pois só se vê bem com o coração. “O Caminho me fez entender que as bolhas nos pés sempre saram; que no meio do caminho existe gente que te ama mesmo você não entendendo a razão; que a promessa do amor de Deus é para todas as raças, línguas e nações e que não há por que eu me preocupar com o amanhã, pois o caminho estará ali, para mim, para todos, basta continuar”.
Rota secular
Não há dúvidas de que essa viagem é especial. O Caminho de Santiago é uma rota secular de peregrinação religiosa, que se estende por toda a Península Ibérica até a cidade de Santiago de Compostela, localizada na Espanha, onde se encontra o túmulo do apóstolo Tiago. São 800 quilômetros de lama, pedra e asfalto. Roberto Lima fez o percurso em 32 dias, partindo de Saint Jean-Pied-de-Port, na França, até Santiago de Compostela. Lima se preparou durante um ano para a viagem,não só fisicamente, mas com detalhes de organização, como roupas e sapatos apropriados e mochila. Também conversou com várias pessoas que fizeram o Caminho, procurando o máximo possível de informações. “Foi o contato com as pessoas que fizeram o percurso que me fez tomar a iniciativa. Eu senti o mesmo relato em todos: foi uma experiência muito rica, cheia de significados, uma viagem diferente do que comumente a gente faz”, lembra.
Entre os pontos mais bonitos do percurso, ele cita como imperdíveis justamente os trechos mais difíceis da caminhada, que são as montanhas, como os Pirineus, Alto do Perdon, Cruz de Ferro e Cebreiro. Outros lugares que chamaram sua atenção foram Puente La Reina, Castrojeriz e Samos. A maior dificuldade do Caminho são os trechos de montanha, terrenos irregulares, subidas e descidas. “Todo trajeto é bonito, tem muita energia e por isso é gratificante. O autoconhecimento também é incrível, pois você, ao mesmo tempo em que está sozinho durante todo o trajeto, também está acompanhado e faz amizades maravilhosas, com pessoas especiais do mundo inteiro”, comenta.
Desapego e autoconhecimento
Percorrer o Caminho de Compostela exige desapego. “Viajei com o mínimo: passei 32 dias com apenas uma mochila e dormi em albergues. Nestes abrigos, absolutamente simples e encantadores, conheci pessoas espetaculares. Peregrinos, estávamos todos na mesma condição e certamente com os mesmos objetivos. São pessoas com histórias incríveis de vida. Sozinhos, casais, filhos e pais, acompanhados com cães, de bicicleta, repetindo o Caminho ou voluntários que por amor e solidariedade ajudam os peregrinos. Vidas ricas, intensas que agregaram valor a minha vida”, comenta.
Nos albergues as acomodações são simples, porém muito limpas e dignas. Apenas uma cama, local para um banho restaurador e para lavar as roupas do corpo para a próxima parada. “A comida dos albergues era deliciosa, acompanhada por vinhos excepcionais e a preços muito baixos. Em alguns locais, mantidos por instituições católicas, a comida é preparada e servida por voluntários do mundo inteiro, que se revezam. Diante da grandeza dessa experiência, o cansaço do Caminho não representou desânimo e nem me pareceu difícil. O ganho da vivência interior e do autoconhecimento fez com que tudo isso ficasse pequeno”, finaliza Roberto Lima.
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