Pré-Natal Odontológico, jornal Diário da Região, 03/01/13

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Pré-Natal Odontológico 
Para quem pensa em ser mãe, os cuidados com a boca precisam começar antes mesmo de engravidar. Quem defende esta tese de saúde bucal, inclusive com um estudo publicado a respeito, é a odontopediatra Ana Rosa Kuymjian Albieri, de Rio Preto, que possui capacitação em odontologia intrauterina e da primeira infância.
Ela observa que o ideal é a mulher que deseja engravidar buscar um dentista antes, para ver se está tudo certo com seus dentes e gengivas, e receber orientações em relação aos cuidados que deve ter com sua higiene bucal durante a gestação. “Se for necessário, ela já realiza o tratamento antes de engravidar. Se isso não for possível e a gestante apresentar qualquer tipo de problema bucal, deve procurar o dentista para solucioná-lo, evitando possíveis danos a ela e ao feto”, diz.
A especialista explica que, neste caso, o objetivo é promover a saúde bucal da mãe para evitar a contaminação de bactérias causadoras da cárie e doenças da gengiva após o nascimento do bebê. O assunto ganha importância como um dos principais temas do I Congresso Interdisciplinar da Associação Paulista de Cirurgiões-Dentistas, que ocorre entre os dias 31 de janeiro e 3 de fevereiro, no Expo Center Norte, em São Paulo.
Lá, profissionais de diferentes regiões do País estarão reunidos para discutir este e outros temas relevantes para a mulher, que nem sempre são abordados no cotidiano corrido dos consultórios.Numa das palestras, “Pré-natal odontológico: bom para a mãe e o bebê”, a odontopediatra Flávia Konishi, especialista no assunto, vai alertar para o risco de algumas doenças que afetam a gestante e podem prejudicar a formação de dentes do bebê.
A dentista lembra que a saúde bucal deve ser alvo da mesma preocupação que a alimentação saudável, a prática de exercícios e as boas noites de sono. Além disso, Flávia afirma que, da mesma forma que não é indicada a exposição ao consumo de cigarros e álcool, a carência nutricional, a exposição a poluentes, as febres altas e as doenças na gestação podem colocar a formação de dentes do bebê em risco. “Muitas pessoas não sabem, mas dentes mal formados e esmalte hipomineralizados tiveram origem na gravidez”, diz. “A formação e mineralização dos dentes do feto começa durante a vida intrauterina.”
Transmissão de bactérias
Para beneficiar a saúde do bebê, a gestante deve fazer o pré-natal odontológico e receber orientações sobre o controle da placa bacteriana (hoje chamada de biofilme dentário), por meio da escovação correta, fio dental e uso adequado do flúor. Caso seja necessário, também pode se submeter a tratamento dentário.
É no pré-natal que os pais recebem informações sobre os cuidados com a saúde bucal do bebê. Uma medida importante é evitar a transmissão da cárie do adulto à criança, principalmente quando ela ainda não possui anticorpos contra essa doença, o que ocorre entre os seis meses aos quatro anos. Os profissionais da saúde bucal alertam para o risco de contágio quando os pais ou qualquer outra pessoa aplicam o chamado “selinho” no bebê, ou compartilham talheres com a criança. Isso quando não assopram a sopinha da criança.
A higiene bucal do bebê é outra orientação fundamental do pré-natal. “A criança que já tem dente já tem placa bacteriana”, afirma a odontopediatra Flávia Konishi. Ela se diz preocupada com o fato de ter de fazer tratamento de canal em crianças de um ano, um ano e meio e dois anos. Nesses casos, segunda ela, “faltam escovação e fio dental e sobram doces na alimentação, e, sobretudo, educação dos pais sobre saúde bucal.”
Flávia ensina que as bactérias presentes no biofilme dentário transformam o açúcar dos alimentos em ácidos, que desmineralizam o esmalte dos dentes (removem os minerais, principalmente o cálcio). A saliva tem a capacidade de controlar esses microorganismos e remineralizar o esmalte do dente.
À noite, a produção de saliva cai e os dentes ficam desmineralizados. “As crianças pequenas que passam por tratamentos muito invasivos são, geralmente, aquelas que dormiram com a mamadeira com açúcar ou achocolatados”, diz a cirurgiã-dentista.
Mudanças hormonais
A dentista Ana Rosa Kuymjian Albieri, que acompanhou mais de 370 gestantes para sua pesquisa, observou que 72% delas apresentavam problemas bucais durante a gravidez. “A maioria apresentou sangramento gengival, que pode ser evitado com uma boa higiene bucal em casa e visita ao dentista. Sabemos que há uma mudança hormonal durante a gestação e que se não houver higiene adequada poderá ocorrer o sangramento da gengiva”, diz.
Ana também detectou a presença de cárie, aumento da salivação e queda de restaurações. Durante a gestação, realmente algumas mulheres têm o aumento da salivação. A presença de cáries é pela falta de cuidados com a higiene bucal, diz. “Às vezes, elas escovam menos os dentes devidos aos enjoos; outras ficam beliscando o dia todo, sem realizar a escovação.”
Vários outros estudos apontam para o problema periodontal como fator preponderante no cuidado com a boca da gestante, e por consequência, do bebê. A transmissão através da corrente sanguínea irá afetar não só a saúde bucal do bebê, mas pode ter outras consequências como parto prematuro e baixo peso ao nascer.
Os pesquisadores alertam que alguns microorganismos são responsáveis pelos problemas periodontais e podem, sim, entrar na corrente sanguínea, alcançar a placenta e o líquido amniótico, com risco de antecipar o nascimento.

Divulgação
Saúde bucal deve receber a mesma preocupação que a alimentação e as atividades físicas

Práticas educativas antes da gravidez

Acompanhe entrevista com o especialista em doençasperiodontais, o cirurgiãodentista Sílvio Amadeu NassarPardo, de Rio Preto, que traz informações sobre ações preventivas para a saúde bucal antes, durante e após a gestação.

Diário da Região – O que é necessário que a gestante faça para proteger a dentição?
Sílvio Amadeu Nassar Pardo – As duas grandes doenças que acometem a cavidade bucal, cárie e doença gengival, são iniciadas pelo biofilme (placa bacteriana) e podem ser modificadas por condições sistêmicas, hormônios endócrinos, fatores genéticos, drogas e má nutrição. Na pratica diária, os fatores que podem ser facilmente manipulados pela gestante são a alimentação e higiene oral e, uma vez criado um estilo de vida correto, é possível passar a gestação toda sem maiores problemas na dentição. O ideal é que a mulher que pretenda engravidar visite um cirurgião dentista antes que isso aconteça para receber instrução de higiene oral, pesquisa e eliminação de focos de infecções gengivais e endodônticas (canal).
Diário – Por que é comum que os dentes ou mesmo a gengiva da grávida fiquem mais sensíveis e até inflamem?
Pardo – Alguns fatores colaboram para isso. A gestante tem enjoos e refluxos que alteram o PH da cavidade bucal, com fluidos ácidos que agridem os dentes, deixandoos sensíveis porque agridem a dentina, a modulação dos hormônios andrógenos, estrogênios e progesterona é alterada, influenciando o metabolismo da gengiva em relação à vascularização, camadas epiteliais (de proteção) e o tecido que vem abaixo do epitélio, que se chama tecido conjunivo. Na prática, a gengiva sofre alterações de volume (fica inchada) e dolorida, e a gestante diminui a escovação e o uso do fio dental por sentir dor e sangramento, com isso, a placa bacteriana não é removida totalmente e a gengivite se instala, causando inflamação nas gengivas e mais ácidos agridem a dentina, causando sensibilidade e dor nos dentes.
Diário – Como é possível contornar os problemas bucais quando a situação implica em não tomar medicações?
Pardo – Praticando higiene oral correta por meio do uso de escovas, fio dental, raspador de língua e um creme dental evidenciador de placa bacteriana para marcar as áreas dos dentes e gengivas que não foram higienizados corretamente. Alimentação correta orientada por profissional da área, e pobre em sacarose, para não acelerar a proliferação do biofilme. Nos casos de microabscessos gengivais , terapia fotodinâmica através de laser é eficaz.
Diário – Qual a realidade da saúde bucal no Brasil, no que se refere à gestação?
Pardo – O conhecimento popular desaconselha, erroneamente, o tratamento odontológico na gestação, por considerá-lo perigoso para a mãe e o bebê. Com base em conhecimentos científicos, médicos e dentistas sabem que os cuidados com a saúde bucal da gestante e da criança devem começar desde antes da gravidez, sendo esse o momento ideal para as práticas educativas. Além disso, sabe-se da transmissão das bactérias da cárie da mãe para o filho, nascimento de bebes prematuros e de baixo peso, o que influencia de forma positiva na procura e oferta dos cuidados curativos. Essas condutas podem contribuir para os formuladores de políticas públicas, gestores e profissionais de saúde no sentido de desenvolver algumas estratégias paro o aprofundamento de perspectiva de intregalidade das práticas preventivas e curativas antes e durante a gestação.

 

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