Matéria publicada na revista Parcerias do Bem, ed.abril/2009
Texto: Cris Oliveira
O médico Flávio Gikovate é formado pela USP desde 1966. Um ano depois iniciou seus trabalhos como psicoterapeuta. Por seus cuidados já passaram mais de oito mil pacientes, e seu trabalho é focado em técnicas breves de psicoterapia. Em 1970 foi assistente clínico no “Institute of Psychiatry” da Universidade de Londres.
Autor de 25 livros, já vendeu mais de 600 mil exemplares ao longo dos últimos 30 anos. Colaborador de várias revistas e jornais assinou coluna semanal, sobre comportamento, na Folha de São Paulo, e participou de praticamente todos os programas da televisão brasileira. Como conferencista é solicitado para atividades dirigidas ao público em geral, quadros gerenciais em empresas, profissionais de psicologia e de várias especialidades médicas.
Com base em um de seus mais recentes livros “Uma História de Amor… com Final Feliz”, a Parcerias do Bem conversou com Gikovate. Acompanhe.
Parcerias do Bem – O que você chama de “amor adulto” é a nova tendência dos relacionamentos?
Flávio Gikovate – O amor romântico (ciumento, opressivo e sufocante) não tem mais chances de dar certo porque é incompatível com o desejo crescente do individualismo. No mundo moderno, em que há muita atividade e interesses individuais, o amor como remédio não funciona, porque é possessivo e exclui a liberdade. Os relacionamentos que vão durar são os que aproximarem duas pessoas inteiras, e não duas metades. É o que eu chamo de + amor.
PB – Como é possível ir além do amor? Fale sobre o “+ amor”.
FG – As pessoas gostam mais de sonhar com o amor do que viver uma relação correspondida. Uns amam sem ser tão amados. Outros são amados, mas não amam. Poucos amam e são amados da mesma forma. Parece que a maioria das pessoas tem dentro de si um grande medo do amor, que predomina sobre o desejo. É o medo de perder a individualidade e, principalmente, medo da felicidade. Para ter uma relação de qualidade, é preciso encontrar um parceiro com o qual valha a pena jogar o jogo da vida, em dupla.
PB – Seria o “segredo de felicidade” que tantas pessoas buscam em um relacionamento amoroso?
FG – O segredo da felicidade é muito mais simples do que as pessoas imaginam. Mas, hoje, certamente ele passa pela necessidade de se preservar a individualidade. Muitos casamentos entre opostos, com a ideia de fusão, ainda vão acontecer antes que as pessoas se deem conta de que não dá mais para insistir nesse tipo de relacionamento. O adulto é como a criança: quer estar no colo da mãe, mas também quer brincar. Antes, o amor ganhava da individualidade porque não havia o que fazer (televisão, meio de transporte), hoje temos inúmeras tecnologias que facilitam os momentos de lazer. Ou seja, a individualidade é um bem precioso, que ninguém quer (e não deve) abrir mão para viver com alguém.
PB – Para se enquadrar nessa nova modalidade as pessoas precisam ser de uma nova geração, ou ter maturidade?
FG – Ter maturidade. Muitas vezes, pensamos que o outro é nossa alma gêmea e, na verdade, o que fizemos foi inventá-lo ao nosso gosto. Duas coisas têm modificado esse ideal: a independência da mulher, desequilibrando a ideia de fusão com uma liderança masculina; e o avanço tecnológico, que criou condições extraordinárias para o entretenimento individual. Se eu tiver de escolher, opto pela individualidade. Posso jogar tênis sozinho ou em dupla. O que não posso é jogar com um parceiro desleal, ciumento e que queira mandar em mim. Isso não é ser egoísta. O egoísmo é a intolerância à frustração.
PB – Como fica a fidelidade conjugal/sexual com essa nova tendência de comportamento?
FG – Sexo e amor são duas coisas que não se misturam. Os sentimentos são completamente diferentes. É fácil perceber quando se trata de um ou de outro. Nas relações maduras, a infidelidade não aparece, pois lealdade, cumplicidade, respeito pelo outro são características de um relacionamento com qualidade. As relações afetivas estão passando por profundas transformações e revolucionando o conceito de amor. O que se busca hoje é uma relação compatível com os tempos modernos, na qual exista individualidade, respeito, alegria e prazer de estar junto, e não mais uma relação de dependência, em que um responsabiliza o outro pelo seu bem-estar.
PB – O que é uma história de amor com final feliz?
FG – O amor é um sentimento que temos pela pessoa cuja presença provoca em nós a sensação de paz e aconchego. E como já foi dito, essa sensação de que falta alguma coisa não pode ser preenchida por outra pessoa. Meu livro tem dois finais: um é ficar sozinho; outro, bem-acompanhado. Ambos representam a vitória da individualidade. Mas a união tem que acontecer entre pessoas semelhantes, com os mesmos planos e projetos, e não entre opostos.
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