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Para falar sobre os desafios da mudança, a CEO e Founder da agência Pericoco, Soraya Pericoco, bateu um papo com a psicóloga cognitivo-comportamental, Mara Lúcia Madureira.
Principais desafios da mudança
A especialista Mara Lúcia Madureira pontou cinco dicas sobre como enfrentar as mudanças, especialmente para a fase que estamos vivendo, com a pandemia de coronavírus. Mas que valem para qualquer situação. Confiram!
DICA 1: Aceitar que a realidade mudou
A primeira dica é trabalhar a questão da aceitação, entender que o cenário agora é de imprevisibilidade. Tudo aquilo que está estabelecido não funciona mais e resistir à mudança significa sofrimento e um esforço desnecessário, uma perda de tempo precioso que poderia ser usado para o planejamento das novas ações diante dessas mudanças.
Mais do que nunca a palavra resiliência é fundamental.
Aquela situação em que você sofre o impacto da mudança e depois você se recompõe, você se restabelece.
Nós precisamos de um otimismo realista para reconhecer os riscos que existem, as ameaças que estão perturbando a nossa sobrevivência e, mesmo assim, continuar confiante que vamos sobreviver como indivíduos, vamos sobreviver como empresa ou negócio, em qualquer ramo nós vamos nos readaptar, então não resistia à mudança.
Por que as pessoas têm um impulso natural de adiar as mudanças?
A procrastinação é uma característica humana, nosso cérebro trabalha com adaptação, ele se adapta e se determina apto a manter aquele funcionamento, depois o que que acontece? Ele resiste às mudanças porque envolve gasto de energia, envolve trabalho, envolve sofrimento, então é mais fácil permanecer no modo convencional.
DICA 2: Precisamos nos adaptar
Nós fomos criados para adaptação! O ser humano, desde o início da história da humanidade no planeta, está se readaptando o tempo todo: as transformações ambientais, as revoluções tecnológicas, industriais… Nós nascemos com esta capacidade adaptativa.
Então tanto os profissionais liberais como autônomos e empresas não podem mais se basear nas fórmulas antigas.
Os métodos que funcionaram muito bem durante muito tempo, que garantiram a sobrevivência e a prosperidade dos negócios, agora têm que ser mais flexíveis e inovadores.
Agora, mais do que nunca, o nosso jeitinho brasileiro, a nossa capacidade de adaptação precisa entrar para que a gente reformule tudo; o jeitinho brasileiro agora passa a ser o sofisticado conceito para os negócios, para as artes e para a cultura.
Aprendizados
Dentro desta dificuldade de mudar o comportamento, como conseguir adotar padrões diferentes?
Vem de uma condição mental, uma função cognitiva de acreditarmos que “somos o que fazemos” e não é assim. O que nós fazemos é parte do nosso aprendizado, então eu não “sou chata” eu tenho “atitude chatas”, atitudes desagradáveis.
A gente rotula as pessoas, o cérebro funciona dessa maneira, pois se eu definir alguma coisa, é mais fácil para lidar porque ela permanece estática, não tem essa percepção de dinamismo porque dinamismo teria que readaptar o tempo todo, por isto é um processo de aprendizagem.
Se você aprende, por exemplo, que isso é uma caneta, qualquer coisa semelhante você entende que é uma caneta, você generaliza tudo, para não tem que aprender todos os dias, a gente cria um padrão.
Só que quando a gente leva isso para o campo das pessoas, a gente quer funcionar do mesmo modo, o cérebro continua trabalhando da mesma maneira como se fosse um padrão e nós não somos um padrão.
Nós somos criaturas dinâmicas, somos indivíduos, somos únicos, não trabalhamos dessa maneira, não funcionamos assim.
Dica 3: Percepção
Isso quer dizer que fazendo dessa forma o cérebro poupa energia, é isso?
Sim, para que a gente não tenha que vai ficar o tempo todo reaprendendo alguma experiência passada. Neste momento é justamente disso que nós precisamos nos livrar, botar a mente no modo expansivo abrir a percepção, assimilar as mudanças e criar ferramentas novas, a tecnologia está aí para ajudar.
As pessoas têm medo da tecnologia.
Sim, quem não nasceu no mundo tecnológico, tem essa dificuldade de assimilar o novo; aquilo que surge como novo é difícil, então é uma resistência.
Nós temos resistência à mudança, a gente prefere ficar naquela zona de acomodação, que eu nunca acho que é uma zona de conforto, mas eu acho que é de acomodação: você se acomoda e permanece ali.
O novo envolve desgaste de energia, envolve reaprender desconsiderar conceitos que foram aprendidos e aprender novos e a percepção é a terceira dica.
Nova realidade
Neste momento que as pessoas tiveram esse impacto tão abrupto de lidar com essa nova realidade de uma forma tão concreta, o que você está sentindo das pessoas?
Eu percebo uma angústia muito grande, uma dificuldade de lidar com a imprevisibilidade.
A gente gosta de tudo previsível, nosso cérebro gosta de tudo programado, a gente gosta de estar no controle e, quando as coisas fogem do controle, temos que lidar com uma realidade totalmente adversa, uma coisa impensada.
Quem imaginou, a não ser os historiadores os infectologistas, que poderíamos viver uma catástrofe desta dimensão?
Fomos pegos de assalto e temos que readaptar rapidamente, temos que reinventar, a gente precisa dessa mudança imediata e a gente resiste à tecnologia pois ela assusta muitas vezes.
Mas eu percebo nas pessoas uma abertura para essa mudança, uma compreensão da necessidade de mudança e um empenho muito grande para se adaptar à realidade e tudo que a tecnologia está proporcionando nesse momento que temos ficar isolados, distante socialmente e temos que trabalhar em home office, atendimento online.
Todas essas mudanças se devem graças à tecnologia, seria muito mais catastrófico se não tivéssemos essas ferramentas.
Percepção aguçada
Você acredita então que as pessoas estão com uma percepção mais aguçada?
Sim, você é colocado no modo de sobrevivência. Quando aquilo que você conhecia não dá mais para ser usado nesse momento, você entra em modo de sobrevivência, você começa expandir a capacidade de compreensão, ampliar a percepção para nova realidade; os que não fazem isso vão sofrer mais, são aqueles que vão entrar em depressão, em processos de angústia.
No livro “quem mexeu no meu queijo” os personagens tinham que se adaptar rapidamente, eu acho que é boa leitura.
A percepção é você perceber a realidade, olhar as oportunidades que essa situação adversa nos coloca e tentar modificá-la, avaliar suas competências, quais são meus dons, as minhas competências e como eu posso usá-las para transformar as adversidades numa oportunidade de reinvenção de trabalho, de empregar as minhas competências para mudar esse cenário, para superar esse momento.
Existem e sempre existiram a vida inteira oportunidades, o ambiente sempre oferece as oportunidades, só que a gente acomodado, faz sempre as mesmas coisas sempre daquele modo, a gente não está tão focado como aqueles empreendedores que estão sempre com atenção focada.
Vamos ter que desenvolver essa competência, esse potencial e transformá-lo numa competência, oferecer serviços por delivery, anunciar em plataformas digitais, buscar todas as oportunidades que essas adversidades proporcionam.
Costureiras não tem roupa, ninguém está indo comprar roupa, mas elas estão fazendo máscaras, então de qualquer maneira a gente vai ter que se reinventar!
O ser humano, além da questão de resistir à mudança tem uma certa dificuldade de utilizar o seu potencial criativo?
Sim e agora é necessário, agora não é uma questão de opção. Agora nós precisamos dessa condição, precisamos criar mesmo, inventar a partir do que temos.
Eu acho que o resultado disso vai ser muito positivo, eu acho que aquelas competências, aquele potencial que está adormecido vai ser reanimado em qualquer idade, qualquer indivíduo de qualquer idade, especialmente os mais velhos que entram naquela acomodação vão ter que repensar tudo isso e ativar esse componente mental que é a criatividade.
Dica 4: Fazer agora
Fazer agora! O momento não permite a acomodação e a procrastinação. É preciso agir já! Não dá para ficar adiando, nós precisamos implementar as mudanças agora. Quanto antes foram feitas, essas adaptações, menos perversos serão os resultados.
Nós vamos enfrentar essa crise, a vida vai voltar ao normal e acredito que melhor, porque eu acredito que quem sofreu um processo de transformação dessa natureza obviamente vai estar melhor. Por mais doloroso que seja agora, vai estar melhor, o momento propicia essa implementação de mudanças.
Dica 5: Lidar com a imprevisibilidade
Envolve a renúncia da ideia de controle. Temos que aceitar que não temos o controle de nada, absolutamente nada! Só podemos controlar agora as nossas emoções para direcioná-las, com Freud diria para a “sublimação”.
Nós precisamos direcionar nossas energias a nossa força, para a questão de lidar com o agora e, à medida em que as coisas vão acontecendo, os planos têm que ser alterados.
Não temos aquela garantia “vou fazer isso porque sei que resultado que vai dar”. Preciso tentar aceitar a ideia de erro e colocar, neste momento, mais do que nunca, mais atenção nas emoções. Sentimento, emoção leva à ação e à criatividade que sempre vão superar a escassez.
Um indivíduo precisa acreditar, ele precisa ter um otimismo realista, apesar de tudo o que o cenário apresenta de ruim.
É preciso focar nas oportunidades, nas coisas boas para criar produtos e serviços que atendam às necessidades das pessoas.
Precisamos abrir a mente, intuir quais são as necessidades das pessoas agora, o que que o meu cliente precisa que eu posso oferecer nesse momento?
Não foi só o meu negócio que mudou os parâmetros, as necessidades das pessoas também mudaram e eu preciso me ajustar para isso.
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